À Bolina

terça-feira, junho 07, 2005

Velhos Papeis VI

O nada

Como o nada me encanta e me seduz
Rogo a ti ser, deslumbra o meu sorriso, o nosso olhar.
Em meu redor giram olhares enganadores, porém,
Já não os sinto – não os vejo afinal!

Rodopiam as palavras mestras da língua,
Envolvem-se os segredos em torno do enredo
Dou cor por entre pinceis desordenados
Sem grande preocupação liberto-me no silêncio
E vagueio pelas ruas já tão gastas
Por aqueles corpos que se arrastam sonoramente
E domam um sorriso falso

Ilustram-se promessas concretas de um mundo tão indefinido
Fujo...filtro-me por entre as pedras da calçada, subo aos céus,
Vou até às profundezas dos oceanos, mas fujo!!!

Passo por entre vós que não sentem o silêncio
Oiço a vossa voz... A voz do mundo.
Palavras e palavras sobrepõem uma ideia e outra e ainda mais outra
E no fim sempre oiço... acabou!
Restou o vazio…

Onde sou nada… E tudo!


Janeiro 2000

segunda-feira, maio 30, 2005

Uma pausa no porto para viagens terrenas

O barco descansou por algum tempo para que o navegador pudesse abraçar outras paixões...

Numa semana dois acontecimentos que alegraram a viagem em terra... Semana Acedémica de Setúbal e a Final da Taça de Portugal.

O primeiro já se torna tradição, já lá vão quatro anos de semanas académicas, com algum trabalho e muita diversão!

Esta teve surpresas agradáveis, rever amigos que não se viam há muito, as "borlas" nas várias barraquinhas e conversas mais ou menos entarameladas até ao nascer do sol.

Venha a próxima!

O segundo foi uma alegria nunca antes vivida em 24 anos de vida. E que lindo foi poder assistir a este momento alto do meu clube na bancada do Estádio Nacional.

38 anos depois o VITÓRIA voltou a erguer o segundo maior troféu no futebol nacional e logo quando outros já queriam comer dobrada...

Como se ouviu ontem, e como eu já tinha avisado na semana passada: "O benfica parou, o benfica parou, o benfica parou no jamor... ohhhooohhooohhh..."

Para a história fica a conquista da terceira Taça de Portugal para a bela sala de troféus do Estádio do Bonfim!

VIVA O VITÓRIA!!!

quarta-feira, maio 04, 2005

Velhos papeis V

"Diz-nos a psicologia humana que quando vemos uma pessoa pela primeira vez, essa imagem ficará para sempre gravada e irá influenciar tudo o que pensamos em relação a essa pessoa no futuro.

Essa opinião poderá vir a ser alterada, mas neste primeiro julgamento e nos seguintes, voltamos à mesma problemática... quem somos para julgar os outros?
E quem nos diz, que os códigos pelos quais nos regemos para fundamentar e justificar esses juízos são os mais correctos... Será por também nós, aos olhos dos outros, sermos igualmente julgados por esses mesmos códigos???

Diz-se que cada cabeça sua sentença. Mas se virmos bem, não é assim... Muitas vezes mudamos a nossa maneira de pensar ou agir em função do cinismo e hipocrisia do socialmente correcto. E que mania temos nós de justificarmos os nossos erros, com os erros dos outros... Pensa o humanóide-sábio (melhor dizendo “Sabão”) “Se eles roubam por que não posso fazer o mesmo???” Ou os rapazinhos que apanham a primeira “Buba” quando saem com os amigos. “Eh, mãe... bebi uns copos porque eles também estavam a beber...” E continuamos a ser levados na enxurrada de estupidez alheia, mesmo quando essa corrente lamacenta e podre nos arrasta para caminhos perigosos e em tudo prejudiciais a nós próprios. Mas não importa... eles também fazem...

E na fogueira do sentir.... na amálgama de emoções e sentimentos que nos confundem, que direito temos de controlar a pessoa que está ao nosso lado??? Se nascemos sãos, livres de pensar, falar (por vezes demais), agir e sentir, porque insistimos em retirar todos esses direitos a alguém que nos é tão querido??? Egoísmo... puro e simples! Esquecemo-nos da pessoa tal como ela é... LIVRE! E tornamo-la escrava da nossa própria vontade, moldando-a ao sabor dos nossos caprichos... Amar alguém ou gostar de alguém, não é ter a pessoa junto a nós, bem amestrada, sempre pronta a satisfazer os nossos caprichos... não!
Amar é aceitar a pessoa tal como ela é, ajudá-la a levantar quando cai, fazê-la sorrir quando está triste ou simplesmente...estar! Estar lá quando é preciso e dizer presente!"


Julho 1999

sexta-feira, abril 29, 2005

À flor das águas



Hoje o dia amanheceu com Sol. Brilhante.
Os raios de luz entraram pelas frestas da janela e acordaram-me sem sobressalto.

Vi o céu de um azul vivo e despertei para o novo dia que já esperava lá fora.
As tarefas por fazer em cima da secretária, acenavam-me que me concentrasse em trabalho. Não quero. Hoje não.

Em vez disso decidi pegar nas chaves e caminhar pela cidade. As pessoas parecem estranhas pela manhã com os gestos ainda meio entorpecidos do sono...

Para onde vou? Para a beira-mar. Tenho saudades de deixar que as ondas me tragam nova vida, que o cheiro a maresia me invada as narinas e me purifique os pulmões e que o verde-escuro do mar dê outra cor aos meus dias cinzentos.

Vou fazer-me ao mar. Quero sentir de novo o som rouco do motor, tomar na minha mão o destino do meu barco, sentir o vento correr solto entre os meus cabelos, semicerrar os olhos por culpa do reflexo do sol intenso e deixar que os meus pensamentos naveguem livres à flor das águas...

Hoje sou vento, água, maresia, sou a espuma salgada que me enche de vida e me dá prazer. Hoje sou eu!

quinta-feira, abril 28, 2005

Viajando

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E da ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa - 20/09/1933

quarta-feira, abril 27, 2005

Na corrente I

Perfeita Desarmonia

Dói-me o peito de solidão. Não da solidão de estar só e não ter com quem falar, mas da solidão de estar só no meio da multidão! Vejo-me cercado de vultos e vozes, mas eles não me consolam. Em vez disso passam por mim e nem notam que estou aqui. Vejo-me cercado e ao mesmo tempo só.

Não sei se perdi o jeito de estar com os outros ou se por outro lado, fui eu que me deixei embalar pela doce ternura de estar só. Sei que já não consigo fingir que caminho com eles, em grupo, nem sei bem para onde. Em vez disso, prefiro passar o tempo só!
Perdido em pensamentos vãos ou até mesmo sem pensamentos, apenas esgotando o tempo do relógio que insiste em passar pelo meu vulto só. O agora e o daqui a pouco já não se enchem de tarefas por fazer, apenas têm mais silêncio e olhar vazio, apenas espero que passe mais tempo.

Por vezes, contrario essa vontade de isolamento prestando-me a mais e mais tarefas rotineiras. Tenho necessidade que precisem de mim, preciso que o que faço mexa com as pessoas. Mas de tanto querer fazer, encho os meus dias de tarefas que não são minhas, que nem me dão prazer e que cada vez mais só servem para alimentar a farsa de que sou preciso e que ainda faço falta. Não faço!

Já não quero sentir que sou preciso, já não quero fazer as coisas para que precisem de mim. Quero estar só! Quero matar o tempo que falta para acabar mais este dia, ocupar a cabeça com mais e mais pensamentos vãos e depois dormir. E amanhã quero fazer o mesmo! Repetir todos os gestos e deixar de ser preciso. Que seja esquecido dia após dia, já não me importo!

Queria que esta vontade se apagasse com uma borracha e que conseguisse sentir-me menos só. Dizem que tenho capacidade e que precisam de mim, que não vale a pena o isolamento. Mas de que vale ocupar-me com coisas que já não gosto e que me entristece só de pensar em fazê-las?

Estou confuso! Gostava de ter tido mais tempo para aprender contigo. Tu, que tantas vezes arriscaste quando te diziam para não o fazeres. Tu, que mais do que ninguém sabias que conseguias fazer. Mas também te deixaste levar pelas ideias dos outros e não me deste tempo para aprender contigo. Optaste por fugir cedo, abandonaste a vontade que te agarrava à vida e não deixaste que te conhecesse melhor.

Tenho saudades! Tenho saudades dos tempos em que me agarravas e me punhas em cima da mesa da cozinha e falavas só comigo. Queria ter tido tempo para te ouvir mais vezes. Queria ter ouvido todas as tuas histórias no mar e aprender todos os teus truques. Beber nas tuas palavras esse teu jeito tão solitário, mas tão sábio de seres só TU!

Março 2005

Velhos papeis IV

Homem

Quem és tu homem que passa...
Homem que sente e vive...
Que pensas e dizes...
Que sonhas, que fazes...
Que constrois e que partes...
Homem que vês e imaginas...
Além do sonho, além do mar...
Além de todos e do que possam pensar...
Que dizes Sim, quando te dizem que Não...
Que vês o amanhã, com o teu futuro na mão...
Que gritas, que choras...
Que calas, que ris...
Que perguntas e respondes...
Que enganas e mentes....
Que acordas e dormes...
Que nasces e morres...
Que és um homem no mundo
E mundo num homem...
E és homem porque és,
Porque sentes e vives...
Porque pensas e dizes...
E aos que teimam em mudar teu destino...
Não os oiças...
Sê...

Março 1999

De volta ao mar

Já navega novamente o barquito.
A reparação não demorou tanto tempo como isso, mas o marinheiro tornou-se preguiçoso de martelar nas teclas e transpor para o ecrã os relatos das viagens.
Mas agora que o barco já voltou ao mar, esperam-se novas viagens para breve...

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Barco temporariamente encalhado...

Depois de uma pausa voluntária na escrita e de ter trocado as viagens no mar dos meus pensamentos por uma bela viagem por terras de Além Tejo, vejo-me obrigado a voltar ao cais e fazer uma paragem forçada nas minhas viagens à bolina.
Depois de algumas incursões nos mares calmos da minha memória, o barco enfrentou uma tempestade inesperada de bits e bytes e encontra-se agora em reparação.
O prazo para que o meu navio possa voltar ao mar ainda não é conhecido, mas prometo embarcar de novo nesta viagem pelos meus pensamentos e memórias muito em breve.
Até lá, boas viagens... em terra ou no mar...